segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Capítulo 3

Na pilastra, do lado oposto à cruz, samantha estava presa. Lara perdeu a noção do tempo desde que vira aquele olhar de desespero e tinha certeza que a jovem submissa também. Aqueles pulsos atados firmemente, puxados para trás, deixando a menina ali entregue de peito aberto para o Dono e todos aqueles olhares. Estava presa não apenas pelas mãos, no entanto. A corda ainda abraçava-lhe o tronco, logo abaixo dos seios expostos. Victor lhe ordenara que tirasse o vestido e ela agora vestia apenas o espartilho negro, de um tecido que de certos ângulos brilhava com as poucas luzes do local e das velas à sua volta, no chão.

O rosto estava úmido, reluzindo lágrimas que teimavam em escorrer. A menina parecia exausta de tantos gritos abafados contra a mordaça e toda a dor que sentia, que maltratava-lhe o corpo. Os cabelos lhe caíam à frente do rosto, escondendo a vermelhidão de alguns tapas atrás das mechas de mesma cor. Lara lembrava-se de siamesa no banheiro e entendia por que Mestre V não permitia que samantha usasse qualquer maquiagem, exceto pelo batom. Se aquela primeira submissa havia chorado um pouco, em meio ao sadismo de seu Senhor, esta agora estava em prantos. As lágrimas descendo em profusão pela face, deslizando até aqueles seios tão doloridos. Da corrente que unia os pregadores de metal dos mamilos, pendia um peso em forma de diamante, metálico. Sobre os seios, em pontos diversos, escorriam e secavam minúsculos filetes de sangue, de agulhas ainda espetadas, pequenas, curtas e finas, como as normalmente usadas em testes de glicose. Algumas poucas haviam caído ao chão, em meio aos soluços da menina, mas para essas seu Dom apenas olhava friamente, antes de coletá-las para evitar qualquer acidente.

Ele rodeava-a, ali... parecia um artista observando sua obra em progresso: uma estátua com o rosto marcado pelos tapas, a bola de borracha da mordaça entre os dentes, com saliva escorrendo pelos cantos da boca, juntando-se às lágrimas. Os ombros e as costas soltando flocos de cera derretida que caíam ao chão suavemente, pouco a pouco. Os pulsos atados com firmeza sem no entanto apertar demais, para permitir a circulação. A corda atravessada ao tronco, firmando-lhe o corpo contra a pilastra antes fria. As coxas e o que estava à mostra do abdômen repletos de lanhos e riscos vermelhos, marcas do facão que ele agora tinha nas mãos. Era uma lâmina decorativa, sem fio, mas que deslizava sobre aquela pele com força, arrancando gritos e deixando linhas, riscos, desenhos . As nádegas estavam ainda mais vermelhas e inchadas de novos abusos sofridos antes mesmo de ser amarrada.

Tudo ao redor deles ficava em silêncio, a música estava bem baixa, como se o DJ soubesse que não devia atrapalhar a sinfonia dos arfares e gemidos da submissa. Como se aqueles soluços incontidos de dor e desespero fossem o mais importante, ali. Lara se imaginava vividamente no lugar de samantha, agora. Tantos olhos perscrutando seu corpo, deslizando sobre sua pele como se mesmo aquele espartilho fosse roupa demais. As pernas da submissa estavam cruzadas, tremiam fortemente e entre elas algo escorria, pela pele e por sobre um fio de cor bege, que saía de seu sexo. Victor presenteara-lhe com um bullet, um ovo de acrílico, vibrador, que estava ligado, dentro dela. A ordem para que não o deixasse escorregar para fora de si havia sido clara e as pernas cruzadas eram uma vã tentativa de fazê-lo. A submissa podia senti-lo, pouco a pouco, deslizando dentro dela e descendo. Amaldiçoava a gravidade. O fio serpenteava por entre as pernas da escrava, até uma pequena caixa de plástico da mesma cor, caída aos seus pés. Ali havia uma chave que controlava a intensidade do motor, nesse momento ligado à metade da potência.

- Eu voltarei a você quando parar de frescura e engolir o choro, vadia. – Mestre V sorria como talvez apenas o próprio demônio soubesse sorrir, tamanha a malícia no curvar daqueles lábios, enquanto se afastava de volta à mesa. Lá se sentava uma Lara atônita, muda. Paula tinha que conter o eventual riso, notando as reações da amiga. A música não aumentava, todos permaneciam com seus olhos à menina, a maioria dos Tops sorrindo, as reações dos bottoms variando um bocado, de espanto e pena a uma admiração sincera. Assim que ele se sentava, guardando a grande faca sem corte ao coldre de metal no bolso da calça, o Dominador descia mais um gole do whisky gelado, parecendo ele mesmo um pouco exaurido. Limpava o suor da testa e olhava fixo para a submissa à pilastra, mais especificamente as suas mãos atadas. – E então Marcos, fazia tempo que não os via à festa, não é mesmo? Como andam as bolsas de valores do mundo?

Marcos não respondia de imediato, apenas ria baixo, sabendo que esse momento de distração era possivelmente só mais um jeito do colega para “assustar a baunilha”. – Ora meu bom amigo, lhe garanto que o mundo dos negócios está bem menos interessante que o daqui de dentro. Sua menina andou se comportando tão mal assim, ultimamente? Ou ela está aproveitando isso tanto quanto você? – Todos à mesa agora tinham o mesmo sorriso faceiro, menos uma pessoa. Ela não conseguia tirar os olhos de samantha, que parecia lutar cada vez mais contra o objeto que teimava em deslizar, querendo escapar de seu sexo.

- Não há qualquer mágoa naquelas lágrimas ou decepção em meus olhos hoje, meu bom amigo. É a dor do mérito, não da punição. – Victor olhava para sua menina e sorria ao fitar-lhe as mãos uma vez mais, antes de voltar seus olhos de um azul tão profundo para Lara, que tinha o queixo caído. – Existem dois tipos de dor infligida aos submissos. – Ele falava agora à mulher, como um professor, enquanto ela aos poucos lhe voltava a atenção. – Punições vêm da decepção do Dono com os erros da escrava, trazem uma dor amarga que piora com a angústia da submissa que sabe que errou e é obrigada, o tempo todo, a relembrar sua ofensa. Mas são também uma promessa. O Top pune, deixando bem claro que após aquele martírio não existe mais o erro. É como se o mesmo jamais tivesse ocorrido. – Ele tomava mais um gole do whisky, terminando o copo e olhando fundo naqueles olhos castanhos, piscando para ela e dizendo algo que ela não soube definir se era um pedido ou uma ordem velada. – Peça mais um pra mim, sim? Puro, com gelo.

Mestre V levantava-se em seguida, cumprimentando Dama Negra que se aproximava da mesa, dessa vez sozinha. – Minha linda anfitriã! A que devo a honra de seu olhar, pelo qual alguns submissos desse lugar se matariam? – Tomava-lhe uma mão e beijava-a, educadamente, enquanto a mulher sorria matreira, olhando-o nos olhos.

- E você pergunta, rapaz? Sua cena ainda não deixou esfriar tantos olhos atentos e você mantém a pobre menina ali, amarrada, lutando contra o inevitável. – Ela olhava a escrava à pilastra e voltava-se para ele, agora com um tom mais baixo e sério. – Se eu não soubesse que vocês têm um gesto de segurança, para cenas assim, chamaria a segurança e o mandaria preso, V. – Ela ria agora, e Lara compreendia porque os olhos de Victor fitavam tanto as mãos da escrava. Havia algo que samantha poderia fazer se quisesse parar tudo aquilo. No entanto, decidira resistir, até ali.

- Você não veio até aqui, pisando em meia dúzia de seus pit-bulls, para me ensinar o que eu já sei, boa Dama. Pode falar o que deseja. – V sorria de uma forma que Lara pôde notar que já sabia a resposta, não precisava perguntar. Mas queria ouvir o que quer que fosse... a advogada também imaginava exatamente que pedido a anfitriã faria, aliás. Começava a compreender um pouco mais daqueles rituais e daquele meio.

- É só aprestada, rapidinho, eu prometo. Sua samantha é tão bonitinha, ainda mais indefesa como está. Vou ser cuidadosa, tá? – Aproximava-se dele, em alguns passos um tanto mais sensuais, com aquele brilho que alguns Dominadores pareciam sempre trazer no olhar. – Quero também tirar-lhe a mordaça, viu? Os lábios de sua menina são desperdiçados, naquele troço. Mas não a farei gozar, V. Já percebi que é o que você reservou para si, essa noite. – Naquela aproximação, ela deixava a coxa esquerda roçar a virilha do homem, enquanto sussurrava em seu ouvido. Confirmava aquilo que dizia e sorria, enquanto Victor dava um passo para trás, talvez um pouco desconcertado, mas ainda mantendo o sorriso.

- Está bem, sua súcubo. Pode se divertir um pouco com ela. Mas não abuse demais da sorte, estamos combinados? O clímax dela é meu, como é o seu interior... não quero seus dedos entrando em nada de minha escrava, essa noite. – Ele falava aquilo em um tom austero, até de certa forma ameaçador, como se deixasse claro o risco de retaliações. A mulher apenas fazia que sim com a cabeça, sorrindo como criança que ganhou o doce antes da refeição, começando a caminhar em direção à escrava que lhe fora emprestada, para brincar um pouco. – Ah, sim, Dama. – Victor chamava e ela olhava-o, por cima do ombro. – Tire o bullet de dentro dela, antes que caia. – Os dois sorriam no mesmo tom maquiavélico, mas eram dela os olhos que agora brilhavam mais.

Lara fizera sinal a um garçom que agora se aproximava da mesa e apontava para o rapaz, mostrando-o ao Dominador que agora se sentava. V uma vez mais observava as mãos de samantha, que já notara a aproximação de Dama Negra, antes de voltar-se para o homem de uniforme e em seguida para a mulher que o chamara ali. – Eu não lhe falei? Pensei que havia dito. É mais um whisky puro, com bastante gelo. Ah, e traga logo mais três chopps. – Aqueles olhos azuis fitavam a advogada baunilha e traziam-lhe novos calafrios, daqueles que já vinham se tornando constantes na presença do homem. – Não podia me fazer o favor? Ou tudo que eu lhe pedir você vai achar que estou tentando te dominar? – Ele ria e ela ficava um pouco sem graça, se achando realmente paranóica, por alguns instantes. – Do que eu falava, mesmo?

Paula respondia, sorrindo e tocando a mão da amiga, sobre a mesa, como se para tranqüilizá-la. – Aquele seu papo sobre dois tipos de dor, você estava terminando de explicar as punições, o martírio horrível de ter que lidar com os próprios erros e todo esse dramalhão que as submissas adoram. – Ela brincava com o assunto, tentando quebrar a tensão, e Lara ria um pouco, sem se sentir mais tão idiota mas também não deixando agora seus olhos desvencilharem-se do olhar perspicaz de Victor.

- Ah, sim. – Ele mesmo ria, olhando para Paula e comentando. – Mas falo isso não por experiência própria, veja bem. É algo em comum que ouvi de minhas meninas, então não pode me culpar se todas elas têm esse amor ao drama. – O garçom trazia as bebidas de todos e o Top esperava que ele saísse, para continuar. – A outra dor é um mérito. É quando o Top desconta seu sadismo sobre aquele bottom. Sem duplos sentidos. – Ria. – É merecer aquelas sensações, sabendo que são fruto de um sentimento do Mestre ou da Rainha. São marcas que todo submisso porta com grande orgulho, pois é merecedor daquela atenção. É nesse ponto que muitos gostam de dizer que dor e prazer se mesclam, porque aqueles golpes, toques e amarras são recebidos como um presente. – Olhava na direção de samantha e seus lábios se abriram em um sorriso de certa ternura, incomum à expressão de Victor... a menina também olhava-o de longe, enquanto Dama Negra tirava-lhe delicadamente a mordaça. Sorria, enfim, ao ter os olhos do Dono sobre si. – É uma dor que elas suportam para fazer seus Donos felizes. Quando o nosso olhar orgulhoso é tudo o que importa.

Ele parava de falar, observando a cena que continuava, no centro da sala. Dama Negra se aproximara como uma pantera, pé ante pé, da mulher indefesa. Não a ficou rodeando, como seu Mestre. Ficou um bom tempo parada à sua frente como se admirasse alguma obra de arte. Aproximou-se da jovem, os dedos delicados tirando-lhe os cabelos ruivos da frente do rosto, olhando-a nos olhos enquanto a mão limpava as lágrimas. – Shhhhhh... shhhhh... – Parecia tentar acalmá-la, a outra mão indo tocar a perna direita, sentindo a submissa tremer, tentando lutar contra o brinquedo que seu Dono havia colocado dentro dela.

O toque da Dominadora deslizava pelo rosto da menina, limpando-lhe a saliva que escorria dos lábios, indo sentir a presilha de couro da mordaça, à nuca da escrava, soltando-a gentilmente. Tirava a grande bola de borracha oca e cheia de grandes furos, da boca de samantha. Foi nesse ponto que a bottom olhou na direção do Mestre e abriu um sorriso, em meio àquela expressão tão dolorida e cansada. Mas um calafrio lhe correu a espinha ao ouvir um sussurro da mulher que agora tocava seu rosto enquanto a outra mão deslizava até a parte interna de suas coxas. – Prometi a seu Dono que não lhe deixaria gozar, então seja uma boa menina. Ou ele ficará muito decepcionado, com nós duas.

Lara observava toda aquela dança de longe. Era bem diferente de tudo o que vira até então, Dama Negra tinha uma sutileza em seus movimentos que nem V nem Lorde Avatar tinham demonstrado. Aqueles dedos finos e delicados, pareciam eletrificar a pele da submissa, que reagia a cada toque de forma intensa. A mulher mantinha-se próxima, deixando-se sentir, enquanto percorria o fio do bullet com a mão, subindo lentamente e começando a sentir onde o sexo ansioso da menina já deixara-o melado. O rosto, próximo ao dela, falava algo em voz baixa, inaudível tão de longe, e a Dominadora deixava a língua sentir os lábios trêmulos da menina, como se saboreasse a presa inerte.

Ouvia a escrava gemer, intensamente... todos com certeza ouviam-na, agora, em meio à respiração entrecortada, arfando e buscando mais ar. Dama Negra tocava-a, melando seus dedos na menina, abrindo-a para seus caprichos, enquanto dois dedos começavam a puxar o fio, bem lentamente. – Não se preocupe, pequena... seu Dono pediu-me que tirasse isso de você. – O que poucos notavam, no entanto, era o pé direito da Top, que saíra da sandália e agora mexia, com o dedão, na chave de intensidade do vibrador, no controle sobre o chão. Se contorcendo contra as amarras, samantha lutava contra seu próprio corpo, sentindo cada milímetro que o brinquedo deslizava, dentro de si, vibrando mais forte. A Rainha puxava bem lentamente, o fio, deliciando-se com aqueles gemidos e aquele olhar que a menina fazia, quando queria implorar algo... a escrava olhava em seguida para o próprio Dono e via seu tom severo. Ele tinha certeza que ela estava à beira do clímax e sua expressão deixava claro que ela não podia se render agora.

De longe, Victor olhava as duas e seu rosto tomava um tom sério, franzindo um pouco o cenho. – Eu devia ter-lhe dado mais limites... – Ria para si mesmo, baixo, tomando um gole do whisky e olhando para Lara, que fitava as duas à pilastra. – Mas precisamos admitir que a mulher sabe fazer uma cena, também. – Paula olhava-o, sorrindo, enquanto Marcos mantinha os olhos presos à pobre samantha.

As poucas conversas que haviam voltado a acontecer, pela festa, cessavam novamente, uma a uma, todos voltando a observar o centro do local com mais atenção, graças aos gemidos da escrava... a outra mão de Dama Negra aproximava-se daqueles seios e ela buscava a aprovação de V, com o olhar, que apenas sorria e meneava a cabeça, afirmativamente. Os dedos da mulher começando a tirar, delicadamente, aquelas pequenas agulhas da pele da submissa, que respirava fundo a cada uma delas, tentando controlar melhor seu corpo... sentindo ainda aquela mão ao seu sexo, provocando-a enquanto deslizava o bullet, já na potência máxima, cada vez mais lentamente. Os lábios desciam pelo pescoço, indo tocar seus seios, limpando aqueles pequenos pontos que queriam começar a sangrar, novamente, e os poucos filetes que já estavam lá, de antes.

Victor levantou-se, ao perceber o olhar desesperado da submissa voltando-se para o seu... era demais, ele entendia. E, no entanto, olhava para as mãos da escrava e não via ali o gesto de segurança combinado entre os dois. Aproximava-se por trás da Dominadora, que sequer o notou até que sua mão tocou a dela, fazendo-a fechar os dedos sobre o fio e puxar o brinquedo, enfim, para fora da submissa. Um suspiro forte, lascivo, deixava os lábios da mulher presa, em um alívio incontido, enquanto o homem sussurrava ao ouvido da Top inconformada. – Eu não lhe disse que podia usar dois dos meus brinquedos. Apenas um. – Ele abaixava-se e pegava o controle do chão, desligando-o e mostrando-o a Dama Negra, que apenas sorria com aquele jeito de criança pega em alguma traquinagem. – Agora quero minha menina de volta, está bem? – Ele lambia os dedos da mão que tocara a dela, melada, enquanto a Rainha, aparentemente satisfeita em sua malícia, afastava-se na direção de seus pit-bulls, que agora por muito pouco não salivavam, ao vê-la naquela cena.

- O-obrigada, meu Senhor... – A voz de samantha soava, gentil e fraca, após tanto tempo sem pronunciar uma palavra sequer. Apenas V podia ouvi-la, mas Lara conseguiu entender o movimento dos lábios. Talvez porque ela mesma se sentisse aliviada que ele fora até lá acudi-la. O homem demorava-se, olhando nos olhos da submissa que sorria de um modo tão fraco, enquanto a respiração tentava retomar o controle. Mas perdia-a subitamente, em um beijo do Dono aos lábios, tão intenso quanto o toque dos dedos que agora abriam suas pernas, indo tocar-lhe o sexo de um modo a ela bem mais familiar que o de Dama Negra. Não que não gostasse, mas era muito diferente de seu Senhor. E eram os dedos dele que a escrava de cabelos vermelhos desejava tão intensamente ao ponto de fechar os olhos e soltar o corpo, ficando ali de pé apenas graças às amarras. Gemia alto, agora, porque sabia que era como mais o agradaria. Ele a abria, em frente a todos os observadores, deixando-se serpentear por entre aqueles lábios úmidos, sujando-lhe os dedos.

- Aaaaahhhh... obrigada, meu amo. Meu Mestre. – Respirava fundo, ao que quase deixava-se levar, mas lembrava que não tinha a permissão para tal. Segurava a respiração, tentando conter seu corpo, em meio àquele toque tão desejado. – Obr-obrigada, Senhor... por vir tocar esse corpo... indigno. Por cultivar o meu pr-prazer... por fazer-me tua. – Ele deixava a presença avolumar-se ao corpo dela, enquanto os dedos deslizavam, melando toda a mão naquela ansiedade da escrava. Dedos que por vezes deslizavam para dentro dela, outras sobre seu clitóris, pressionando-o entre eles. – M-Mestre... p-p-por favor... – Segurar a respiração já não adiantava mais. Nem conseguia respirar fundo para buscar mais forças. A menina ofegava, esquecendo toda a dor, presa à angústia de aguardar pela permissão de seu Dono. Precisava daquele gozo. Não podia mais. Achava que perderia os sentidos, ali mesmo.

- Goze, samantha... – Sentia todo o corpo tomado em espasmos de prazer, quando finalmente ouvia aquelas palavras. Mestre V sorria enquanto aqueles olhos cheios d’água se abriam para tentar olhá-lo, mas ela os fechava novamente, sentindo-se tonta em meio às ondas que percorriam seu corpo. As nádegas doíam contra a pilastra, mas seu Senhor soltava gentilmente o grampo do mamilo esquerdo, tocando-o e fazendo-a sentir o prazer intenso, dolorido do sangue correndo de volta a ele. Fazia o mesmo com o direito e ela gritava de dor e prazer ainda sentindo aqueles dedos dentro de si e sobre seu sexo, serpenteando e fazendo-a amolecer. Molhava aquela mão em meio ao orgasmo tão intenso. Victor soltava as amarras, agora, puxando algumas pontas soltas das cordas e desfazendo as voltas que prendiam o tronco da menina.

Lara observava a tudo, envolta em emoções mistas, confusas. Aquela expressão de prazer tão intenso, mesmo após todas as torturas, lhe era quase incompreensível. A escrava deslizava da pilastra pela mão de seu Dono, caindo de joelhos à frente dele sem forças. Agarrava-se àquele punho com uma urgência repentina, começando a lamber seus próprios fluidos dos dedos de Victor, mostrando que era sua obrigação limpá-lo. Cumpria-a, agradecida.

O Mestre observava, sorria e parecia não ter olhos para mais ninguém, naquela festa. Mas não samantha. Em meio àquele sorriso de satisfação, ao lamber e sugar dos dedos do Dominador, fitava os olhos de Lara, pelo canto dos seus, antes de voltar-se para Victor e ganhar mais um beijo, do Senhor que se inclinava na direção dela. A advogada tremeu nas bases, com aquele olhar. Sentia-se quase tão acuada quanto sob os azuis dele. Era um desafio claro: “Você não faria melhor.”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Capítulo 2

Depois de sentarem-se à mesa com Marcos e Paula foi como se todos aqueles olhares e trejeitos de Mestre V tivessem mudado de tom. Conversavam ele, a submissa, samantha, o casal e Lara, amigavelmente e a ameaça daqueles olhos de um azul forte parecia ter se apagado. Ainda era envolvente, ainda era intenso, mas da mesma maneira que tantos homens interessantes que ela já conhecera no passado.

Não conseguia deixar de notar, no entanto, os modos da escrava à mesa. Ajoelhada sobre um almofadão ao lado do Dono, parecia ter sempre parte de si tocando-o. Uma mão sobre o braço ou o rosto à perna dele, o ombro recostado ao seu flanco ou à coxa, quando eventualmente falava mais empolgadamente, se aproximando. Olhava pouco para o rosto dele e cada vez q o fazia era com um sorriso que mesclava malícia e submissão. Tinha os olhos inflamados de desejo, sempre que algo parecia lembrar-lhe momentos com seu Mestre. Aparentemente, poucos assuntos não o faziam.

- Mas então, Victor, não veremos uma cena sua à cruz esta noite? Você sabe que Dama Negra sempre conta com você para agitar um pouco mais as coisas, por aqui. – Marcos sorria fazendo aquela sugestão e Paula apenas ria, olhando para samantha com um sorriso um tanto ambíguo aos lábios.

- Você tem algum problema com nomes, meu caro amigo, já lhe disse que isso ainda pode se tornar problemático. – Mestre V olhava de soslaio para Lara e ela percebia que não deveria ainda saber o seu nome, que o amigo dera de bandeja. Pensava nisso e sorria faceira, para aqueles olhos azuis, agora ela mesma em certo tom de vitória. – Mas quanto à pergunta, esta noite não pretendia fazer nada. No entanto, acho que seria um bocado decepcionante para a sua convidada, não ver algo mais interessante. Que me dizem? – Todos agora olhavam-na e a advogada corava sob seus sorrisos . Não esperava aquela menção repentina, muito menos a mudança no tom da conversa. O único olhar que parecia não provocá-la era o de samantha... ela olhava-a mas não a via. Uma mão pousada sobre o colo do Dono e um ar de submissão profunda. Era como se nada mais visse, sua mente mergulhava nas possibilidades do que poderia estar para acontecer.

- M-mas claro que não, deixe de bobagem... estou adorando a festa com tudo o que já vi. – Lara olhava para a cruz com um sorriso um tanto nervoso, mas realmente nada lhe chamara tanto a atenção quanto a cena de Lorde Avatar, mais cedo. Forçava-se a não pensar demais a respeito. – Não precisa se preocupar comigo, Victor... – Aqueles olhos azuis a intimidavam, agora... ele obviamente não gostava de ser chamado pelo nome e ela percebeu que era uma péssima hora para essa provocação.

Olhava para a escrava aos pés de V e percebia os dedos dele indo tocar a coleira da submissa... era bem diferente de todas que tinha visto, até agora. Uma gargantilha dourada, de elos ovais e delicados, com um pingente de prata - talvez ouro branco, era polido demais para prata, que à primeira vista pareceria um brasão atravessado por uma adaga... mas a impressão da lâmina era na verdade um grande V, vazando a área de um círculo prateado com um símbolo estranho, de desenho delicado, sob os traços fortes da letra. Este assemelhava-se a um Ying-Yang, mas divido em três partes, não duas. Jamais vira algo parecido mas era muito belo e discreto. Os dedos do Dominador percorriam aqueles elos, tocando a pele da bottom em uma carícia suave, fazendo-a fechar os olhos e deixar a cabeça pender um pouco de lado.

Lara olhava samantha demoradamente, agora. Era uma mulher de feições delicadas e pele alva, não parecia ter chegado aos 30, ainda. Os ruivos cabelos bem longos, ondulados, muito bem cuidados. Os olhos grandes, um castanho quase dourado, de tão claros. O nariz delicado, bonito, as maçãs do rosto curvilíneas e suaves, os lábios pareciam saídos de uma boneca de cerâmica, bem vermelhos, pelo batom. Algo naquele rosto parecia-lhe europeu, era uma mulher de porte pequeno, não parecia que de pé mediria acima de 1,60m. Usava um vestido longo sem alças, vinho, deixando transparecer no decote as curvas dos seios, pequenos, firmes e empinados pelo que só poderia ser um espartilho, sob a roupa. A saia, comprida, e a cor davam-lhe todo um tom arcaico, mas muito belo.

Os dedos de V deslizavam pelos elos daquela coleira tão delicada, indo até a nuca e o olhar do homem à mesa mudava. Aquele azul escuro ganhava um brilho de ameaça, um ar de predador que agora Lara reconhecia, enquanto a mão se fechava nos cabelos da submissa e puxava-os para trás, com força... a expressão de dor no rosto da escrava era breve, seguida de um suspiro incontido, prazeroso, fechando os olhos para evitar a afronta de encontrar os do Dono sem permissão. A voz do Top saía em um tom grave, que toda a mesa ouvia claramente, um comando ríspido. – Vá à portaria pegar minhas coisas, serva. Abra a bolsa, lá mesmo, traga o açoite na boca e os mamilos pregados. O resto você vai deixar como está, a bolsa aberta sobre a minha cadeira, ouviu bem? – A menina tentava fazer que “sim” com a cabeça, mas ele não deixava, puxando-lhe os cabelos com mais força e reforçando a pergunta. – ENTENDEU, vadia?

- S-sim Senhor, meu Mestre. Obrigada por querer usar essa sua escrava indigna hoje, meu Amo. – Aquela voz saía fraca como se com medo de falar alto demais, incerta. Lara sentia um arrepio com toda aquela cena, mas disfarçava com mais um gole do chopp, sem conseguir desviar o olhar dos dois. Percebia como o peito da submissa se movia mais rápido, arfando com cada nova ordem. Por vezes, a advogada buscava os olhos de Mestre V e ele reagia como se já soubesse de antemão, imediatamente olhando-a de volta em um tom de clara ameaça. – Devo deixar os grampos à mostra, nos mamilos, Mestre? Devo trocar de coleira?

A mão do Dominador soltava aqueles cabelos e samantha apressava-se em deixar os olhos se abrirem, buscando o chão, apoiando-se à cadeira do Dono para começar a se levantar, delicadamente. Ele a olhava, de cima, com um sorriso malicioso e um olhar intenso. – Não vai precisar da coleira, essa noite. Eu só trouxe os grampos com a corrente, dessa vez, e são eles que você voltará usando. – Aquelas palavras causavam calafrios visíveis, à menina que apenas murmurava um “Sim, Senhor”, quase inaudível, antes de pedir licença às outras três pessoas à mesa e caminhar em passos apressados na direção da portaria. Mestre V permanecia em silêncio, agora, demorando-se em um gole do copo de uísque. Lara via nele os traços de um homem metódico, mas não frio. Pelo contrário, havia uma intensidade em seus gestos que por vezes beirava certo ar de impulsividade . Naquele momento, entretanto, ele parecia planejar... e o que começou a preocupar Lara foram os momentos em que fitava especificamente os olhos dela, ainda perdido em pensamentos. Ela não percebia que cruzava um braço por cima do torso, em um gesto defensivo, enquanto voltava-se para Paula, falando baixo.

- Eu me sinto um pouco... sem jeito. Ele não precisava fazer isso... seja lá o que for... só porque eu estou aqui, hoje. Já estou gostando muito da festa, é bem legal e...

Marcos e Paula riam, com o acanhamento da amiga, e o amigo explicava, sem qualquer cerimônia. – Ah, mas ele já o faria, estando você aqui ou não. Isso tudo é só desculpa. Mestre V jamais precisou de motivos externos para querer maltratar a pobre samantha. – Victor olhava-o enquanto pousava o copo à mesa e ria em deboche, ao ouvir o comentário do amigo a seu respeito. – E não é como se ela própria não fosse gostar, Lara... você verá o rosto dela e vai entender bem do que estou falando.

Mestre V levantava-se e mais uma vez a conversa nas mesas ia diminuindo, aos poucos, enquanto sua escrava cruzava a pista de dança com uma grande bolsa negra nas mãos. Trazia, seguro pelos dentes, um açoite de couro, de empunhadura grossa, que mal lhe cabia à boca, que terminava em muitas tiras de um marrom bem escuro. Os seios agora vinham à mostra, desfilando à frente daquele corpo, a parte da frente do vestido um pouco enrolada por cima do topo da barriga, o espartilho negro, com detalhes em renda, deixando-se notar sob a roupa. Os mamilos estavam em riste, presos por grampos de pressão, metálicos, de aparência nada amigável, esses unidos por uma corrente que em nada lembrava a delicadeza da gargantilha que a submissa usava. Os olhos da bottom voltados para o chão, enquanto passava ao lado do Dono para deixar a bolsa sobre a cadeira.

Virava-se de frente para ele e Lara pensava no quanto os grampos deveriam doer, esmagando-lhe os mamilos daquela maneira. ­­– Boa menina... – Victor falava, áspero, e segurava a corrente que os unia, fazendo a bottom segurar a respiração. Puxava-a atrás de si, sem qualquer delicadeza, caminhando em direção à cruz. A escrava abafava um grito de dor, no açoite, mordendo-o mais forte, sentindo a dor lancinante, ao ser puxada pelos seios, enquanto os pés se apressavam em seguir os passos mais largos, do Mestre. Ele por vezes, em meio ao trajeto, dava um novo puxão repentino, arrancando mais gritos abafados, da submissa.

Chegavam ao centro do salão e quase todos já olhavam na direção dos dois, apenas poucas mesas continuando alguma conversa mais animada. O DJ já escolhera uma canção mais apropriada, começando a tocar “Trust Me”, do Dee Joy, enquanto V agarrava novamente aqueles cabelos ruivos e, com apenas um olhar firme, fazia-a ajoelhar-se e voltar a fitar o chão. A menina tirava o açoite da boca, deixando as mãos deslizarem sobre a empunhadura, em movimentos demorados, sensuais, parecendo simular naquele objeto o sexo de seu Dono, mas apenas para limpar dali sua própria saliva. Ofertava o instrumento, sobre as duas mãos, estendendo os braços para cima, na direção de seu Senhor, e inclinando a cabeça para baixo, por entre eles, em um gesto de total subserviência. Lara agora não conseguia conter o fascínio com a beleza daquela cena. Observava, atenta, a todo aquele ritual envolvente. Percebia em cada movimento de samantha a demonstração de um amor profundo, incondicional, por aquele que estava prestes a trazer-lhe tamanha dor e humilhação, na frente de todas aquelas pessoas.

Mestre V pegava o açoite das mãos da submissa, sorrindo enquanto as mãos dela abaixavam-se, indo até o chão. Por um momento, a menina ficava de quatro, na frente dele, mas então continuava o movimento, abaixando até apoiar os ombros no chão frio, repousando o rosto de lado, sobre ele, as pernas erguendo os quadris o mais alto que podia, as mãos deslizando pela lateral do corpo, indo levantar a saia até a cintura, expondo as pernas e as nádegas, nuas... de onde estava, Lara conseguia ver pouco do corpo da menina, mas de alguma forma tinha a certeza de que seu sexo também estava à mostra, para as pessoas de algumas das mesas. O Top a rodeava, acariciando as tiras do açoite com um toque mais gentil que o que dispensara aos cabelos da submissa, estes agora esparramados pelo chão, formando um tapete de cobre, delicado.

- Meu Senhor... presenteia-me com a dor do teu sadismo. Meu Mestre, por favor. Satisfaz todas as tuas vontades obscuras e insanas nesse corpo que lhe pertence. Perdoa o meu pecado de te querer, por que sou indigna. Pune esse corpo, pelo atrevimento de estar melado, pensando em ti. Faz de mim o que quiser, meu Dono, mas não me deixe... eu te imploro. Preciso de sua dor... me pune... me perdoa... – A voz de samantha saía melodiosa, mas forte. Queria que todos ali a ouvissem, se declarava a seu Amo e queria deixá-lo orgulhoso. Os primeiros golpes do açoite pareceram tão bem vindos, na expressão daquela mulher, que Lara por um momento pensou se não era mero teatro... mas o estalar de cada investida era alto, mais forte que o da anterior, e a velocidade com que aquelas tiras de couro cortavam o ar era algo impressionante. Logo, a menina não mais suspirava no alívio de ter suas súplicas atendidas, mas começava a gritar de dor... lágrimas brotando dos olhos, as mãos aos lados do rosto, sobre o chão. Todo o corpo reagindo em espasmos, com cada novo golpe. Aquele homem repousava sobre ela um olhar que trazia todo o peso do mundo e não mais sorria. Tinha o cenho franzido, enquanto erguia a mão direita para cada novo estalar do açoite... as nádegas da submissa quase pulsando, vermelhas, cheias de lanhos , riscos vermelhos desenhados sobre a pele.

- Obrigada. Ahn! Obrigada, Mestre! Ahn! Por tentar me tornar... ahn! Digna de sua atenção. Ahn! Meu Senhor... – Cada nova açoitada trazendo um gemido de dor, cada vez mais alto. Victor olhava-a e ela agora deslizava o rosto pelo chão, virando a cabeça para buscar o olhar de aprovação do Dono, por entre os cabelos de fogo... lágrimas molhavam a pista, mas ainda assim ela sorria, ao encontrar a imensidão azul daqueles olhos celestes. Sabia que aquela cena mal havia começado... mas nada temia, no olhar daquele que a dominava. As tiras de couro agora deslizando por sobre as nádegas, demoradamente, antes do golpe seguinte. Sentia ainda a dor dos seios, os mamilos presos roçavam sobre o chão, a cada espasmo de dor mais intenso.

- Levante-se, vadia submissa. – A voz dele ecoava pelo local e voltava ainda mais forte, fazendo todo o corpo da bottom responder. Apoiava-se novamente sobre as mãos, ficando de quatro para se levantar, o Dono logo indo agarrar-lhe os cabelos, puxando-os para cima, como se impaciente com a demora, que se dava por conta da dor às nádegas vermelhas, inchadas. Ele sussurrava algo, demorando-se ao ouvido de samantha, cujo rosto logo demonstrava um misto de medo e ansiedade, antes que ela caminhasse rapidamente até a bolsa preta, bem à frente de Lara. Abria-a e por um segundo olhava para a baunilha, não conseguindo conter um sorriso malicioso de satisfação, em ver que a mulher parecia se interessar mais, por tudo aquilo, como seu Mestre queria. Tirava da bolsa um par de algemas tipo pulseiras de couro negro, com argolas de metal bem grossas, vestindo-as apressadamente, com um brilho no olhar. Em seguida alcançava algumas velas, três delas, e o que parecia ser apenas uma grande corda, negra, com detalhes em branco. Lara, tão perto, arregalava os olhos, fazendo a escrava rir baixinho, enquanto tirava, por último, uma grande faca prateada, de cabo e coldre ornamentados, como se cada detalhe em protuberância fosse um chifre, sobre a empunhadura. A cada objeto que tirava, era como se quisesse provocar novos olhares de espanto. Divertia-se com as reações da outra.

- Eu disse RÁPIDO! – Sem que a serva percebesse, Mestre V se aproximara por trás e agora agarrava-lhe os cabelos de uma forma bem mais violenta que antes, puxando-os como se não tivesse medo de acabar arrastando a bottom atrás de si. O olhar da menina agora transmitia dor e um ar de desespero... olhava nos olhos de Lara, afastando-se... não podia ter demorado. E a noite mal começara, para samantha.