segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Prólogo

Lara olhava ao redor, pesquisando aquele ambiente estranho. Achava tudo muito curioso, ali dentro. À primeira vista, pareceria uma boate, e provavelmente o fora em algum momento, mas agora não era isso. Havia uma pista de dança, isso sim, mas ninguém dançava ali... apenas passavam por aquele meio, deixando o corpo balançar ao ritmo, mas não era dança, ao menos não em um sentido estrito. Observava os ires e vires daquelas pessoas, por trás de uma tulipa de chopp, bem gelada. Tudo era bem cheio de rituais, de movimentos que pareciam ensaiados, de alguns olhares gélidos e tantos outros temerosos.

Próximas a cada mesa, almofadas grandes acomodavam aqueles joelhos aflitos, de gente que só esperava um sussurro ou gesto daqueles sentados às cadeiras para pegar a comanda e correr até o balcão do bar. O lugar tinha garçons, mas quase ninguém se preocupava em chamá-los então eles se amontoavam perto do balcão, olhando tudo aquilo, divertidos... pareciam mais acostumados que ela, a noites daquele tipo. A música, de um jovem DJ escondido com sua pick-up, num canto perto da escada, era boa, ela precisava admitir. Por isso mesmo gostaria de ver mais gente dançando. Mas sabia que ninguém estava ali para isso. Ela mesma era apenas uma curiosa, convidada por um casal de amigos, Mauro e Paula, que afirmava conhecer tudo aquilo, mas se envolvia pouco e gostava apenas de ir conversar e ver encontros do tipo.

- Que foi, Larinha? – Paula perguntava, com um ar de escárnio, provocando-a – Não se preocupe que ninguém aqui vai te morder... se você não quiser, claro.

- Não é isso. Eu apenas imaginava encontros desse tipo de certa forma mais glamourosos. Todo mundo vestindo couro, espartilhos, máscaras...

- E todos estátuas gregas, homens altos, fortes e viris, mulheres esculturais, com seios explodindo para fora de corseletes? – Mauro fazia graça, mas tinha razão... eram pessoas comuns, ali, não aquela gente de livros e contos a quem você costuma associar esse tipo de fetiche.

- É... acho que seria mais fácil entender essas preferências estranhas se todo mundo fosse perfeito, aqui. Acho apenas curioso... esperava algo do tipo que se lê sobre o “Hellfire Club”, em Nova York. – ela ria, e olhava em volta, ainda pensativa... não é que as pessoas se vestissem de modo muito convencional, ali... mas também não havia tudo aquilo que ela esperava. Paula interrompia suas divagações.

- Na verdade... o que você quer ver não costuma aparecer em noites comuns, assim. Existem outros encontros e festas, bem mais reservados. Normalmente, não são convidados mais que 10 Tops, para um desses...

- Tops? – interrompia Lara.

- O pessoal que senta às mesas e que dá as ordens. – Paula ria – Cada Top, no entanto, pode levar quantos bottoms, esses que ficam de joelhos ou sentados no chão, tiver e quiser. Nesses encontros sim, cada um traz sua melhor roupa, pose e pompa. Tops mais cuidadosos costumam presentear seus bottoms com “coleiras de gala”, quando os chamam para noites assim. Essas que você está vendo por aqui, em alguns pescoços, são consideradas coleiras comuns, só um sinal de posse. E as poucas coleiras menos delicadas, com mais argolas de metal e sem iniciais inscritas nelas – apontava um exemplo, no pescoço de uma menina que passava apressada, até o balcão – são coleiras de treinamento. Normalmente usadas ou em cenas mais pesadas, ou por bottoms que ainda não ganharam o direito de portar as iniciais de seus Tops, consigo.

Lara ria. Toda a ritualística parecia ser bem mais complexa do que ela imaginara, até ali. Entendia, em parte, como aquilo tudo servia para definir muito bem as relações de poder, e agora compreendia porque algumas daquelas coleiras tinham letras gravadas, no couro ou em plaquinhas de metal presas a ele. Estudava tudo aquilo com um sorriso discreto, nos lábios. Começava a achar o assunto um pouco mais interessante, mas ao mesmo tempo concluía que jamais aceitaria algo do tipo, para si. Era mulher independente, dona de sua vida e de suas vontades, certa de sua individualidade. Julgava-se segura demais de sua sexualidade e de seus impulsos, para submeter-se àquele tipo de jogo e manipulação. Para ela, todas aquelas mulheres ajoelhadas que se deixavam dominar eram inseguras. Ela jamais aceitaria.

- Também vejo mais homens... bottoms... do que imaginava. Acho que tantos quantos mulheres, não? Mas a postura é diferente. – observava homens de pé ao lado de suas Tops que, sentadas, conversavam com os outros presentes e sorriam, por vezes dirigindo algum mal-trato a eles, aparentemente gratuito – Tem horas que se parecem mais com guarda-costas.

Paula e Mauro apenas riam, começando agora a cumprimentar alguns amigos que chegavam ao local. Lara tomava mais um gole do chopp e acomodava-se melhor à cadeira, olhando em volta, interessada. Ao centro da pista, preso a uma pilastra, havia um grande X de madeira (Paula dissera-lhe que se referem àquilo como cruz) pintado de preto, com argolas de metal nas quatro pontas e algemas de couro pendendo das argolas superiores. A noite mal começara, mas imaginava que veria aquilo em uso, até o fim dela. Das laterais da pilastra, presos a ganchos discretos, pendiam alguns instrumentos incomuns. Chicotes de vários tipos e tamanhos, alguns de uma ou várias tiras de couro, lisas, outros de corda, com diversos nós ao longo, de aparência um tanto dolorosa. Aquilo lhe causou um calafrio estranho, na espinha... não imaginava como a dor daquilo poderia ser algo prazeroso.

- Lara, esta é a Dama Negra, organizadora e dona da festa. – Mauro interrompia seus pensamentos, apresentando-lhe uma mulher de figura esguia, sorriso perigoso e voz envolvente.

- Olá, Lara, e seja bem-vinda. É um grande prazer recebê-la. Domme, sub ou baunilha? – ela sorria e dava-lhe um beijo de cada lado do rosto. Era de baixa estatura, pele morena, cabelos bem negros, olhos escuros... usava um salto enorme, fino, e puxava atrás de si, por uma correia, a coleira de um jovem corpulento, forte, com jeito de pit bull... ele apenas ficava ali, parado, olhando-a, sem se apresentar. A pergunta dirigida deixou um ar de dúvida, por alguns instantes, ao que a Dominadora se apressou em explicar – Dominadora, submissa ou curiosa, mocinha. Mas já tenho a resposta. – ela ria, divertindo-se com a desconhecida curiosa, e notava-a olhando o rapaz atrás de si – Liga não, ele é sempre assim. Sabe seu lugar e não morde... e ai dele se morder. – olhava para o jovem, que parecia sentir um certo arrepio, sob o olhar da Dona, mas tentava manter-se plácido. – Não é, lixo? – ele fazia que sim com a cabeça, ainda praticamente mudo.

- Muito prazer, é bem interessante estar aqui e conhecer um pouco mais desse mundo. Espero que não me considerem uma intrusa, aqui. Vim a convite de meus amigos, Mauro e Paula. – eles meneavam um “sim”, com a cabeça, sorrindo e então voltando-se para cumprimentar o rapaz que viera seguindo Dama Negra. Ele apenas sorria e fazia um aceno afirmativo com a cabeça. Lara continuava – Mas, pra falar a verdade, eu não acho que essas coisas sejam pra mim, não. Acho legal, e de uma dedicação admirável. Mas...

- Mas você é uma mulher muito segura de si, independente, dona da própria vida, para ser uma submissa. – a Dama tirava as palavras de sua boca, não exatamente na mesma ordem – Acha que só serviria para ser Dominadora e mesmo assim não se vê capaz de tratar alguém dessa forma. Eu sei bem como é... mas garanto que você já sentiu um prazer incontido em ver um homem se prestar às coisas mais idiotas para agradá-la. Que também já teve suas fantasias e tem seus desejos de ser pega com firmeza, num momento mais impulsivo, deixando-se levar por aqueles braços fortes e movimentos bruscos. – sorria, de um jeito enigmático, aproximando-se dela para falar em um tom mais baixo e enfático – Você só não se deu a chance de explorar nenhum desses seus dois lados, ainda. Mas não se preocupe, ninguém jamais lhe forçaria a nada, aqui. Você só precisa se preocupar se começar a sentir algo novo. – ela piscava o olho direito e ria, mesmo perante a expressão incrédula da ouvinte. – Agora se me der licença, tenho uma festa inteira a cumprimentar. – dava-lhe mais um beijo e saía, puxando aquele homenzarrão pela coleira e pisando firme.

Lara não sabia muito bem o que pensar, enquanto observava-a se afastar. Dama Negra parecia agora uma mulher mais forte, para sua estatura, e imaginava claramente aqueles saltos agulha marcando a pele de algum pobre bottom. Mas não fazia o tipo que levantaria qualquer suspeita, de quem a visse passar pela rua. Agora, pensando um pouco melhor a respeito, estranhava outra coisa. Não ouvira um nome, só aquele apelido. Tão estranho, mas falado com tamanha naturalidade que não parecia fora do comum chamar alguém assim. Ria baixinho consigo mesma, ao pensar aquilo, e terminava sua tulipa de cerveja, descontraída.

Mas foi por cima da borda do copo, após o pensamento tolo e aquele riso em particular, que pela primeira vez sentiu o estranho calafrio. Do outro lado da pista, um par de olhos a fitou. Algo acidental, os dois olhares só passeavam pelo local e se encontraram no meio daquele vagar. Ela parou o movimento, não devolvendo a tulipa à mesa... sentia-se idiota, pois parecia achar que aquilo a esconderia e faria ele desviar a atenção para algo mais. Sabia que não, no entanto. Havia um brilho irredutível no azul daqueles olhos. E foram os seus, castanhos, que desistiram, voltando-se para o chão, instintivamente.

Deixou o copo sobre a mesa, respirando fundo e voltando a sorrir, se virando para falar com Paula. Encontrou os olhos da amiga e um sorriso malicioso em seus lábios. Sabia que ela tinha percebido aquele momento e o quanto encarnaria em sua pele, se não arrumasse um assunto logo.

- Simpática, a Dama Negra. Então, todo mundo por aqui se dá apelidos e é chamado por eles? – sorria, em deboche – E quem são você e o Mauro, então? Dom Branquelo e Lady Não-tão-loira? – ria baixinho, virando-se e tentando acenar para algum garçom... mas viu todos agora entretidos com a imagem de uma menina que fora presa à cruz e aguardava seu Top, que rodeava-a com um sorriso malicioso decorando os lábios, decidir o que faria.

- Não nos demos apelidos, até hoje. – Paula tinha aquele sorriso ambíguo, deixando claro que não deixaria aquela passar tão facilmente – Já lhe disse que não somos tão assíduos e nem seguimos o estilo de vida, como alguns, que tentam fazê-lo 24 horas por dia, sete dias por semana.

Lara sentia um calafrio. – Como assim? Você quer dizer que tem gente que... age assim em todo lugar, todo dia? – Não conseguia compreender aquilo, sempre achou que fosse coisa apenas de livros e contos. – Ah, Paulinha, vai me perdoar mas aí já fica esquisito demais, tá? Não quero julgar o que vocês ou eles curtem fazer, mas... – Olhava as pessoas à sua volta, um tanto incrédula. Errou, no entanto, ao deixar-se levar pela curiosidade. Queria saber se aqueles olhos azuis estavam novamente sobre ela. Um calafrio voltou-lhe à espinha, ao descobrir que sim. Pensou no que falava e imaginou aquele olhar sobre si um dia inteiro. Imaginava-se reagindo àquilo antes que sequer a primeira hora passasse. Não podia descrever o modo como aqueles olhos a perscrutavam, de tão longe.

- Não é assim, do jeito que você está vendo aqui, Lara. – Mauro respondia. – Nem daria pra ser, isso só rola nos livros. Mas existem maneiras mais discretas de se demonstrar submissão. Existem olhares que substituem muito bem as ordens óbvias, nos momentos mais oportunos. Algumas horas é apenas uma questão do tom da voz. É interessante, porque muitas vezes a própria parte submissa incorpora aquele comportamento, no dia-a-dia. – Ele ria, baixinho, vendo a reação de Lara. – Calma, tudo isso é baseado em regras e limites acordados por ambas as partes. Normalmente quando o bottom ganha sua primeira coleira. Por isso que às vezes, por mais que se teste e saia com um submisso ou uma submissa, a relação não chega ao encoleiramento. Porque na aproximação inicial os dois lados vão apenas se testando... muito parecido com um relacionamento comum, não-BDSM.

- Ah, então a coleira é meio como um “quer namorar comigo” sadomasoquista, né? – Lara fazia graça, ao conseguir desviar o olhar, tentando descontrair-se mais, com tudo aquilo. Não conseguiu prestar atenção a tudo o que Mauro comentou, enquanto ela mesma tentava decifrar aqueles olhos, o homem agora sorria, enquanto a olhava. – É quando você não está mais “ficando”. – Ria, olhando para os dois, que apenas sorriam e balançavam a cabeça, negativamente.

- Nesse ponto, não dá pra fazer comparações... – Paula tentava soar compreensiva, apesar do deboche da amiga. – A coleira tem um significado próprio, muito intenso. O encoleiramento é o reconhecimento de ambas as partes quanto à força um do outro. O Top reconhece a dedicação e capacidade do bottom em corresponder às expectativas, enquanto o segundo reconhece o poder do primeiro sobre si. É normalmente um ritual muito bonito, seja entre quatro paredes, seja numa festa como essa. Envolve uma série de juras de submissão, promessas de dedicação e palavras de conforto e aceitação. A coleira é o direito de portar as iniciais do Dono consigo, e isso traz um grande orgulho à parte que se submete. É também a promessa de muitas “lições” vindouras e um adestramento árduo, pela frente. – Ela ria, vendo Lara arregalar os olhos. – Sim, adestramento é exatamente o que parece: uma forma de condicionamento. Para a maioria, envolve toda uma dança, mesclando dor, humilhação, carícias, sexo e prazer. Tem horas e cenas que te deixam com pena do bottom, só de ver. Mas se você olhar em seus olhos, existe uma resiliência orgulhosa, em suportar tudo aquilo e ainda se dedicar tanto aos caprichos daquela pessoa. Eu não vejo os bottoms como pessoas fracas, Larinha. E nem você deveria.

Ela sorria de um jeito malicioso, como quem queria dizer um tanto mais, mas emudecia. Lara aprendera a não gostar quando Paula ficava calada, assim. Queria sempre dizer encrenca a caminho. Mas ela jamais falaria o que estava percebendo, no ar. Divertia-se com aquilo. Um pouco irritada, Lara decidiu deixar a amiga com seus pensamentos tolos e ver um pouco mais da festa. A submissa presa à cruz, de frente para a mesma, já deixara de esperar pelos caprichos de seu Dono. O vestido de alças, negro, levantado até a altura da cintura, deixando à mostra uma calcinha bem fina, de renda vinho. Os pés descalços, uma coleira de couro marrom, no pescoço. Pendurada a ela, uma plaquinha com as iniciais L.A. Assim, daquele ângulo, parecia uma coleira de cão. As nádegas expostas, sofrendo os golpes de uma palmatória de couro negra, alternadamente. O instrumento parecia uma raquete de ping-pong, mas menos arredondada, coberta de couro negro, com detalhes de um couro mais claro, no cabo. Os estalos preenchendo a sala, mais altos que o burburinho das mesas. Muitos paravam de conversar, apenas observando a cena. O corpo da mulher se comprimia contra a cruz, logo antes de cada investida. Não esperava a dor, para reagir. Sabia exatamente como seria, o que sentiria... era estranho, notar aquilo.

O olhar atento de tantas pessoas, em volta, mas era como se para aquela pessoa presa à cruz não houvesse ninguém. Seus olhos buscavam apenas o Dono, cada vez que ele a rodeava, em passos que mais assemelhavam-se a um predador rodeando sua presa. Ele vestia uma camisa social de um azul bem escuro, com as mangas compridas dobradas à altura dos cotovelos. As calças de um jeans negro, sapatos de couro preto e cabelos curtos, castanhos bem claros, arrepiados.

A escrava suplicava-lhe com os olhos, mas não ficava claro pelo quê ela implorava. Não parecia que a dor lhe afetava àquele ponto. Havia um amor incondicional, no olhar, e o Dono dirigia-lhe algo estranhamente similar. Voltava a deixar a linha de visão da bottom e os golpes recomeçaram. Agora mais rápidos, mais fortes, mais intensos. Todos ao redor se ajeitavam em suas cadeiras, e com Lara não era diferente. A menina gritava, berrava, começava a chorar. Tudo se intensificando, o burburinho das mesas cessando quase por completo. Não havia mais nada naquela sala cheia. Apenas os urros de dor de uma mulher presa a algemas de couro, balançando contra elas, comprimindo os seios e o rosto contra aquele enorme X negro, de madeira, como se pudesse fugir àquilo. Suplicava, em soluços incontidos.

- PERDÃO, SENHOR! PERDOA-ME POR SER UMA VADIA, INDIGNA DE SUA ATENÇÃO! ME FAÇA DIGNA, MESTRE! – tentava respirar, entre os gritos – Deixa essa cadela ficar aos seus pés... me torna tua, completamente.

Ia perdendo a voz, à medida que os golpes ficavam mais espaçados, mas não perdiam a força. O homem, aproximava-se, agarrando-lhe os cabelos com força e puxando-os para trás, indo sussurrar algo no ouvido da serva, para em segui-la soltá-los bruscamente, voltando a maltratá-la.

- Obrigada, meu dono. – um estalo preenchia a sala – Serei sua enquanto assim desejar. Enquanto achar que mereço... OBRIGADA!

Após um último golpe, com um estalo que parecia poder fazer toda a sala tremer, tudo ia abaixando de tom, menos a respiração de Lara. Ela sentia-se alterada, com aquilo. Não estava pronta para o que acabara de ver. Sentia revolta pela dor daquela menina. Suas nádegas vermelhas, agora um tanto inchadas, e aquela sensação de impotência, em seus olhos. Mas aquelas palavras. A revolta misturava-se a uma estranha excitação que ela recusava-se a aceitar. Toda uma ansiedade tomava-lhe o corpo, acelerando o pulso. Sentindo a respiração descompassada. Levava uma das mãos à boca, sem nem perceber, em espanto. Tudo aquilo... e a submissa, solta das algemas, caía de joelhos abraçando as pernas do Dono, com um carinho tão surreal. Limpava as lágrimas discretamente, contra a lateral das calças do homem, e sorria ternamente. O olhar com o brilho de uma entrega apaixonada. O Dominador tocando e acariciando seus cabelos, com uma das mãos... tinha um sorriso de satisfação, mas não de vitória. Não estava ali para ganhar. Era o leão, deitado calmamente, segurando a presa inerte pelo pescoço... sufocando-a aos poucos. Segurava a palmatória com a outra mão e fazia a escrava beijá-la, agradecida.

Lara levantou-se, enquanto um garçom lhe trazia outro chopp. Precisava se acalmar. Parecia infecta com algum tipo de euforia, no ar, mas ao contrário dos outros à volta, não entendia nem gostava. Todos olhavam para a cena dos dois ali, juntos, com um profundo respeito e admiração. A advogada apenas cobria o espaço entre a mesa e o banheiro a passos largos, precisando jogar um pouco de água no rosto. Recuperar o fôlego, com mais calma. Olhava-se no espelho, corada. Sentira-se uma invasora, naquele momento. Não devia estar ali. Ninguém deveria. Achava-se tão exposta quanto a submissa que estava presa à cruz. Jogava água no rosto, buscando uma toalha de papel para se secar. Assustou-se ao abrir os olhos e olhar no espelho, vendo alguém adentrar o banheiro feminino, atrás de si.

2 comentários:

Berzins disse...

clap. clap clap ;)

Lee disse...

Belo texto e bela descrição do primeiro contato de uma mulher "baunilha" com o mundo BDSM. Os olhos de Lee viram a mesma coisa.
Beijos!